terça-feira, 24 de junho de 2014

EXPERIMENTAR


A vida é experimentar. Desde o momento em que abre os olhos de manhã, já começa a jornada. O olhar, os cheiros, os movimentos. Tudo é experiência. Umas são mais fortes que outras. Vai depender do valor emocional que dá.

Entretanto, estar vivo por si só, não garante uma qualidade de experimentação que te eleve. A expressão do SER fica pobre com a pobreza de experiências e de acordo com a qualidade da percepção destas.

Algumas exigem agito, movimento contínuo, perseverança, e coisa e tal. Outras exigem o ócio, o descansar, a meditação, a investigação silenciosa, a vadiagem.

Se está envolvido num frenético correr, onde a pressa lhe é prioridade, estará perdendo muita coisa. O corpo precisa do repouso para se ajustar, ajustar, reajustar e SENTIR. Sem abrir mão do trabalho, que tem suas finalidades específicas na vida de cada um, que vão muito além do dinheiro ganho.

                   

A vida tem momentos para tudo. A questão é que enfatizamos mais uns do que outros. Tem que haver uma dedicação mais equilibrada entre todas as formas de expressão para que a libido possa se expressar totalmente, sem ficar faltando pedaços dela, que irão reclamar (depois de algum tempo de forma violenta) atrapalhando e gerando conflitos diversos em nossa vida de uma maneira geral.
             
  
                                                   
A qualidade das experiências está ligada diretamente ao grau de percepção e interesse.Não percebemos aquilo que não nos interessamos. No entanto, só se interessar não garante que terá boa percepção. Exercitar os sentidos com toda a atenção é um caminho.

Tudo na vida é estímulo.

A abundância, a exuberância, a diversidade da vida é melhor expressa quando percebemos que tudo é estímulo para que despertemos, para que possamos nos dar conta de que a riqueza em todos os sentidos do termo está em nós e não precisa de nada para aparecer e se concretizar. 

Claro que se não acredita, se tem dúvidas ou simplesmente não aceita esta proposição, terá pela frente um rio e talvez até um tsunami de estímulos. A natureza e o universo precisam que você se dê conta disso de um jeito ou de outro. Representando-os melhor por aqui com atitudes que levem a expansão, ao crescimento, ao conhecimento e principalmente ao desfrute e ao prazer.

É lógico que temos, digamos, uma certa capacidade de digerir experiências num dado tempo. Não temos como sair por aí experimentando tudo. Há que se fazer uma seleção apropriada caso a caso.


Experimentar do seu modo. Sem copiar. Copiando. Provando um pouco, muito. Viajando o mundo ou aprendendo a viajar dentro de casa. Não há maneiras "certas" ou "erradas", apenas a SUA MANEIRA. Única e perfeita pra você. 

A inovação nasce assim, do destemor de experimentar sem copiar, copiando... um pouco, muito. Sim, o paradoxo. A maior experiência. Experimentar a incoerência, a insensatez até que chegue a SUA sensatez (de senso - sentir), que será minimamente suficiente, pode crer, com o senso comum. 

Mesmo aqueles que são, digamos, "enjoadinhos", tem lá suas razões. Eles sabem, pela "memória celular", ou de "vidas passadas", da mãe ou do pai que disse ou enviou um sms telepático. Respeitemos o direito de quem não quer experimentar alguma coisa, por mais que saibamos que experimentar é bom, é a vida, é viver, estar vivo, SER! É estar onde muitos ainda não estiveram e descobrir às delícias de gozar e/ou de se foder.

LUMIAR



As pessoas estão muito viciadas no chamado "amor de luta", "amor de sofrimento", "amor de decepção", num eterno conflito de poder e de disputas diversas. Rebelam-se e revoltam-se por se sentirem mal amados, por nem saberem ao certo o que lhes falta. Assim culpam o parceiro. Acham-no inadequado e isso e aquilo. 

A princípio parece muito fácil pôr a culpa no outro. Saímos de fininho da responsabilidade por nossa parte, e nos isentamos do que é mais importante numa relação: nos conhecermos.

Só quando amamos e nos expomos é que trazemos a luz (Lumiamos) tudo aquilo em nós que está oculto e que ainda não tomamos conhecimento. Que aliás deveria ser nossa mais absoluta prioridade.

A vida está aí, nos dando gratuitamente todos os estímulos necessários para que reconheçamos de imediato o quanto já brilhamos. E a "receita" é simples como canta o grande artista Beto Guedes em "Lumiar" (iluminar, clarear em todos os sentidos): 

"Anda, vem jantar, vem comer, vem beber (sorver os estímulos externos), farrear (a base da vida é essa: alegria e diversão) até chegar Lumiar (a iluminação, o brilho) e depois deitar no sereno (se entregar totalmente) só pra poder dormir e sonhar (ter um contato breve com o nosso subconsciente - o EU SOU - o Deus que habita em nós), pra passar a noite caçando sapo ("príncipes ou princesas"), contando caso de como deve ser Lumiar..."(sim, muito se fala sobre "iluminação", sobre se destacar e brilhar aqui e acolá - histórias que retratam algo que foi esquecido dentro de nós. Daí muitas delas serem bastante distorcidas - há um "esquecimento" profundo...).

Lumiar é um distrito da cidade de Nova Friburgo, no centro-norte do Estado do Rio de Janeiro, bucólica e simples, como é a "iluminação". Tudo figura de linguagem.

E aí ele continua: "Acordar Lumiar (todos os dias já acordamos "iluminados"), sem chorar, sem falar, sem querer acordar em Lumiar (mas a resistência não nos deixa perceber). Levantar e fazer café, só pra sair caçar e pescar (os estímulos e experiências que a libido nos empurra para que assim nos descubramos) e passar o dia moendo cana (conflitos diversos), caçando lua (a "cara metade" - que no fundo é você mesmo), clarear de vez Lumiar (fazer isso é tão simples)"...

A vida é simples, fácil de manejar e divertida. Entretanto, continua aberta a escolhas.

E prossegue: "Amor lumiar pra viver (só o amor ilumina), pra gostar, pra chover, pra tratar de vadiar (o ócio criativo - quem anda excessivamente ocupado, não tem tempo pra se ver, se sentir e perceber detalhes que ficam ocultos). Descansar os olhos (olhos ocupados não veem direito), olhar e ver e respirar, só pra não ver o tempo passar (escapar da escravidão que o tempo nos impõe)... pra passar o tempo até chover (limpar as resistências), até lembrar de como deve ser Lumiar (veja, nós já sabemos, basta lembrar)... anda vem jantar, vem dormir, vem sonhar, pra viver até chegar Lumiar (de novo mais estímulos e contato consigo mesmo). Estender o sol na varanda até queimar (enxergar crenças e sombras ocultas e resolvê-las), só pra não ter mais nada a perder (desapego total)... pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar (refrescar a cabeça, estar livre de ideias pré-concebidas) clarear de vez Lumiar" (e aí tudo clareia)...


Na década de 70/80, esta música tocava bastante, me "encucando" muito. Fui duas vezes em Lumiar tentar entender o que ele queria dizer. A primeira fiquei de queixo caído. Não tinha nada demais. Uma exuberante natureza, rios e cachoeiras como em muitos outros distritos no entorno. 

Nada que pudesse chamar a atenção de uma cabeça voltada para o "externo". Nenhum guru, nenhum templo "sagrado", nada. Na segunda vez em que estive lá, depois de ter ouvido uma entrevista do Beto Guedes em que ele dizia que jamais tinha estado em Lumiar (isso no início da década de 80, hoje eu não sei), fiquei ainda mais confuso. Todavia, não insisti. Deixei para quando chegasse o meu momento. Demorou um pouquinho, mas hoje posso dizer que aprendi a perceber alguma coisa, pois a letra desta música é fantástica e mostra de uma maneira bem simples (como deve ser), "como" se dá a iluminação (ou melhor: o reconhecimento dela, pois já somos).

Isso não quer dizer que para ser iluminado você deva ser um matuto ou pobre ou ignorante ou os três. Nada disso. Você pode perfeitamente morar num palácio e ser simples. (o que aliás, vai exigir muito mais de você para que não se perca em frugalidades). Não há mérito algum em ser simples quando se é pobre e nem dizer que se é pobre com muito "orgulho" quando se é pobre. Aliás, existem muitos pobres que são milhares de vezes mais bestas que muito ricão que conheço. 

O desafio é conciliar. Ter o melhor da vida sem se perder nisso. E como não se perder? Somente se encontrando, conforme ele nos brinda quando canta.