quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O MOVIMENTO NAS CRENÇAS...


Como já disse em posts anteriores, muitas de nossas crenças estão ligadas a instintos mais remotos, como por exemplo, o instinto de sobrevivência.

A diversidade e o contraste nos bombardeiam a todo o momento e desse bombardeio nasce o desejo, a aspiração. Só que muitas vezes esse desejo bate de frente no "muro das crenças". Determinadas crenças literalmente impedem a realização do desejo.

Remover ou substituir aquela crença que impede nosso movimento adiante é tarefa contínua de se auto observar com dedicação total e permanente. Não há caminhos fora da determinação e persistência. A decisão de melhorar e expandir já está gravada em sua essência.

Algumas de nossas crenças são verdadeiros alicerces do que somos hoje como pessoas e se você remove o alicerce, o que acontece?
O "edifício" desaba... Então, o que fazer? Ou o que não fazer?

Uma coisa que quero deixar claro e que peço que acredite com todo o ímpeto do seu ser: Nós sempre temos opções! Mesmo que não as veja, acredite, sempre a temos! Nunca duvide que o universo poderia deixar-te sem o ar que respira, sem a água que bebe, sem a comida que te alimenta e muito menos sem as opções, alternativas, escolhas, caminhos, rumos, direção e completando tudo isso: Seu legítimo e irrevogável direito de fazer escolhas.

Se andamos por corredores aonde existem imensas pilastras fincadas diante de nós, não poderemos sair derrubando tudo e mais uma vez eu me pergunto: O que ou como fazer?
Sim! É possível caminhar no vácuo. Essas "pilastras" do nosso mundo interior estruturam o que chamamos de personalidade, não a alma. Personalidade é uma condensação energética que vamos criando ao viver e conviver neste planeta. Ela é um instrumento necessário a expressão aqui, mas não é você. É só uma identidade criada. Tudo bem, às vezes parece ter vida própria, parece ir contra ao que desejamos. E de fato vai, não por mal e sim por prevenção.

Definitivamente: "forçar", não é a palavra. Se você força, compromete o que há de melhor em você: seu sentimento. As vezes queremos tanto e nos encontramos emaranhados de uma tal forma que caímos na tentação de forçar. Como isso às vezes dá certo, achamos que é uma questão de "força de vontade". É lógico, vontade tem que haver, mas sem a força...

Melhor seria se convencer de que está preparado para o que vem. Repetir um mantra do auto-convencimento e tomar atitudes práticas e imediatas no sentido de se mostrar (não a ninguém e sim somente a você mesmo) que está preparado e se preparando, seja estudando, lendo, pesquisando, conversando, praticando atividades físicas, sociais, de intercâmbio e buscando o sentimento de estar pronto para o que deseja.

Situações de urgência premente sempre atrapalham. Evite se colocar em situações assim, porque, neste caso, nossas opções ficam reduzidas e mesmo que resolva o problema, provavelmente terá feito contra seus princípios e preferências, deixando você num estado emocional inapropriado.  

Por outro lado, muitas vezes chegamos em situações difíceis por pura procrastinação. Empurrar com a barriga parece ser a moda do século. E aí, a vida nos empurra para essa ou aquela situação. O universo anseia por expansão e você e todos nós somos seus agentes. Cabe a nós cumprir esta maravilhosa tarefa. 

Esse sentimento de pressa, de desespero se encarrega de anular a legitimidade do processo de escolha (que deve ser natural e fluído em tudo. Vou repetir: EM TUDO!) A pressa gera contradições e conflitos. Não quero dizer que tudo deva ser lento. Há de haver celeridade sempre, mas sem aquele frenesi dos filmes tipo "velozes e furiosos". Não precisamos, para fazer acontecer, estar em guerra com nós mesmos.

Encontrar um jeito de avaliar o que ocorre e tentar perceber quais os sentimentos por trás disso e mais: Quais as crenças que mobilizam esse sentimentos.
Precisamos ver mesmo que não haja possibilidade a curto prazo de remover a crença. Uma crença nunca está só, ela vem "coligada" com outras. É o fio da meada. Você puxa e aparece coisas que até Deus duvida.

Relaxe. O desespero não resolve. Sendo assim, vamos através da observação, procurar nos meandros das pilastras algumas soluções parciais até que possamos remover as crenças que nos impedem de seguir viajem.

Eu quero ficar rico, por exemplo, mas tenho medo. Medo do que os outros vão pensar, medo de ser classificado como ladrão, medo de ser mal, medo de ser indigno, medo de seqüestro, medo dos interesseiros de plantão e etc. Preciso, antes de qualquer julgamento, sentir esses medos. Não posso reprimi-los. Devo ver, sentir, perceber. Preciso vivê-los um pouco sem a repressão, sem querer escondê-los de quem quer que seja. Respiro, respiro e respiro. Puxo bem a minha respiração e sinto. 

Uso o imenso poder da minha imaginação e me vejo, já como uma pessoa muito rica e próspera, e imagino tudo que poderia acontecer diante dessa situação. Devo caprichar na imaginação, E ME SENTIR PREPARADO E PRONTO PARA AQUELE DESEJO, pois assim, faço o único convencimento de que preciso: o meu. Se eu estiver de fato convencido, todas as outras pessoas que serviram de canal para que o universo concretize o desejo, também estarão.

Não preciso prolongar essas sessões, mas viver o necessário até que eu sinta minha respiração voltando ao normal. Se ela não se modificar é sinal de que não está vivendo aquele medo. É preciso que ela se altere, para só depois se normalizar.

Talvez não consiga eliminar meus medos. Talvez consiga alguns. Talvez consiga todos numa só tacada. Não importa. Tem gente que move uma única pedrinha e com isso, muda tudo. Outros talvez precisem de algo mais. Tudo bem, lembre-se isso não é um campeonato. Cada um do seu jeito. Respeite-se, ame-se e pronto.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A MÁQUINA DE CRENÇAS.


O nosso cérebro e o nosso sistema nervoso constituem uma máquina geradora de crenças, um sistema que evolui não para garantir a verdade, a lógica e a razão, mas a sobrevivência. A máquina de crenças tem sete peças básicas.
Muitas pessoas creem nas ideias a seguir. Todas elas já foram calorosamente debatidas:
  • Através da hipnose pode-se conhecer vidas passadas
  • Horóscopos fornecem informações úteis sobre o futuro
  • Às vezes acontecem curas espirituais onde a medicina convencional falha
  • Está em andamento uma ampla conspiração satânica transgeracional na sociedade
  • Algumas pessoas com dons especiais podem usar seus poderes extra-sensoriais para ajudar a polícia a desvendar crimes
  • Às vezes nos comunicamos com outras pessoas telepaticamente
  • Algumas pessoas foram raptadas por OVNIs e voltaram à Terra
  • Elvis está vivo
  • Vitamina C cura ou previne resfriados
  • Imigrantes estão roubando os nossos empregos
  • Alguns grupos étnicos são intelectualmente inferiores
  • Alguns grupos étnicos são superiores atleticamente, pelo menos em alguns esportes
  • Crime e violência estão ligados à ruptura da família tradicional
  • O crescente poderio atômico da Coreia do Norte é uma ameaça à paz mundial
A despeito da grande confiança tanto de crentes como de descrentes, nenhum dos lados tem muitas evidências objetivas — se é que tem alguma — para sustentar sua posição. Algumas dessas crenças, como telepatia e astrologia, contradizem o conhecimento científico atual do nosso mundo e portanto são consideradas “irracionais” por muitos cientistas. Outras não contradizem a ciência, e baseadas em fatos ou não, ninguém as consideraria irracionais.
Os racionalistas do século dezenove previram que a superstição e a irracionalidade seriam derrotadas pela educação universal. Mas não foi isso que aconteceu. As altas taxas de alfabetização e a educação universal pouco fizeram para suavizar essa crença, e pesquisas atrás de pesquisas mostram que a imensa maioria da população acredita na realidade dos fenômenos “ocultos”, “paranormais” ou “sobrenaturais”. E por que isso acontece? Por que é que nesta época altamente científica e tecnológica a superstição e a irracionalidade prosperam?
É porque nosso cérebro e nosso sistema nervoso constituem uma máquina geradora de crenças, uma máquina que produz crenças sem qualquer consideração em particular por o que é real e verdadeiro e o que não é. Essa máquina de crenças seleciona informações do ambiente, molda-as, combina-as com informações armazenadas na memória e produz crenças que são geralmente consistentes com outras crenças já aceitas. Esse sistema gera crenças falaciosas da mesma maneira que aquelas em dia com a verdade. Essas crenças guiam ações futuras e, falsas ou não, podem ter utilidade para o seu portador. Se existe de fato ou não um céu para boas almas em nada diminui a utilidade dessas crenças para pessoas que procuram um sentido na vida.
Nada é fundamentalmente diferente sobre o que podemos pensar como crenças “irracionais” — elas são geradas da mesma maneira que as outras. Podemos não ter apoio das evidências para crenças em ideias irracionais, mas também não temos esse apoio para a maior parte das nossas crenças. Por exemplo, você provavelmente acredita que escovar os dentes é bom para você, mas provavelmente não tem nenhuma evidência para apoiar essa crença, a menos que seja dentista. Ensinaram-lhe isso e, por fazer sentido, você nunca questionou a ideia.
Se fôssemos conceituar o cérebro e o sistema nervoso como uma máquina de crenças, ela compreenderia diversas partes, cada uma refletindo um aspecto básico da geração de crenças. Entre as peças, as seguintes unidades têm importância especial:
  • A unidade de aprendizado
  • A unidade de pensamento crítico
  • A unidade dos desejos
  • A unidade de entrada
  • A unidade de resposta emocional
  • A unidade de memória
  • A unidade de feedback (resposta) ao ambiente
  • A Unidade de Aprendizado
A unidade de aprendizado é a chave para a compreensão da máquina de crenças. Ela está ligada à arquitetura física do cérebro e do sistema nervoso, e devido à sua natureza, estamos condenados a um processo virtualmente automático de pensamento mágico. “Pensamento mágico” é a interpretação de dois eventos próximos como sendo causa e efeito, sem nenhuma preocupação com o vínculo causal. Por exemplo, se você acredita que cruzar os dedos dá boa sorte, você associa o fato de cruzar os dedos com um subsequente evento favorável e estabelece um vínculo causal entre eles.
Nosso cérebro e nosso sistema nervoso evoluíram ao longo de milhões de anos. É importante perceber que a seleção natural não seleciona diretamente de acordo com a razão ou a verdade, ela seleciona de acordo com o sucesso reprodutivo. Nada em nosso aparelho cerebral dá um valor especial à verdade. Imagine um coelho na grama alta, e lhe conceda por um instante um grão de intelecto consciente e lógico. Ele ouve um ruído suave na grama, e tendo aprendido no passado que isso eventualmente é o sinal de uma raposa com fome, o coelho se pergunta se é uma raposa mesmo desta vez ou se uma lufada de ar causou o ruído. Ele espera por evidências mais conclusivas. Embora motivado pela busca da verdade, esse coelho não sobrevive por muito tempo. Compare esse falecido coelho com um outro, que responde ao ruído com uma forte reação do sistema nervoso autônomo e foge o mais rapidamente possível. Este tem mais chances de sobreviver e se reproduzir. Portanto, buscar a verdade nem sempre favorece a sobrevivência, e fugir baseado em uma crença errônea nem sempre é ruim. No entanto, embora essa estratégia possa dar certo na vida selvagem, pode ser bastante perigosa na era nuclear.
A unidade de aprendizado é tal que se aprende muito rapidamente pela associação de dois eventos significativos — como encostar em um forno quente e sentir dor. Associações significativas produzem um efeito duradouro, enquanto a dissociação dos mesmos eventos é muito menos importante. Se uma criança encostasse em um forno e se queimasse, e depois se encostasse de novo e não se queimasse, a associação entre dor e forno não seria automaticamente desaprendida. Essa assimetria básica — a associação de dois estímulos tem um efeito importante, enquanto que apresentar os estímulos desassociados (ou seja, individualmente) tem um efeito muito menor — é importante para a sobrevivência.
Essa assimetria no aprendizado também está subjacente ao erro que tinge nossos pensamentos sobre eventos que ocorrem juntos de tempos em tempos. Os humanos são muito ruins em julgar com precisão a relação entre eventos que só ocorrem juntos de vez em quando. Por exemplo, se pensamos no tio Alfredo e ele nos telefona alguns minutos depois, pode parecer que isso exige uma explicação em termos de telepatia ou precognição. No entanto, só podemos avaliar adequadamente as co-ocorrências desses eventos se também considerarmos o número de vezes que pensamos no tio Alfredo e ele não ligou, ou no número de vezes em que não pensamos mas ele ligou mesmo assim. Essas últimas circunstâncias — esses não-pareamentos — têm muito pouco impacto no nosso sistema de aprendizado. Por sermos superinfluenciados pelos pareamentos de acontecimentos significativos, inferimos uma associação entre os eventos, até mesmo causal, mesmo quando não há nenhuma. Assim, por acaso alguns sonhos podem corresponder aos eventos subsequentes muito raramente, e mesmo assim essa conexão pode ter um efeito dramático na crença. Ou sentimos que está vindo um resfriado, tomamos vitamina C, e quando se percebe que o resfriado não era tão forte inferimos uma conexão causal. O mundo à nossa volta está repleto de acontecimentos coincidentes. Alguns deles têm significado, mas a vasta maioria não tem. Isso fornece solo fértil para o crescimento de crenças falaciosas. Nós aprendemos prontamente que existem associações entre eventos, mesmo quando elas não existem. Frequentemente somos levados por eventos co-ocorrentes a inferir que o primeiro deles de alguma maneira causou o que o sucedeu.
Temos tendência ainda maior ao erro quando estão envolvidos eventos raros ou emocionalmente carregados. Sempre estamos procurando por explicações causais, e tendemos a inferi-las mesmo quando não existem. Você poderia ficar intrigado ou até mesmo muito incomodado se ouvisse um barulho alto na sua sala mas não encontrasse nenhum motivo para ele.
A Unidade de Pensamento Crítico
A unidade de pensamento crítico é o segundo componente da máquina de crenças, e é adquirida — adquirida através da experiência e do aprendizado explícito. Devido à arquitetura do sistema nervoso que descrevi, nós nascemos para pensar magicamente. A criança que sorri logo antes de o vento mover o móbile acima dela sorrirá novamente muitas vezes como se o sorriso tivesse magicamente causado o movimento desejado do móbile. Precisamos trabalhar para superar essa predisposição mágica, e nunca o conseguimos por completo. É pela experiência e ensino direto que entendemos os limites de nossas interpretações intuitivas mágicas imediatas. Pais e professores nos ensinam a lógica, e uma vez que ela nos ajuda bastante, a usamos quando parece apropriado. De fato, o paralelo cultural desse processo de desenvolvimento é o progresso do método formal de investigação lógica e científica. Percebemos que não podemos confiar em nossas inferências automáticas sobre co-ocorrências e causalidade.
Aprendemos a usar testes simples de razão para avaliar eventos à nossa volta, mas também aprendemos que certas classes de eventos não devem ser sujeitas à razão, mas aceitas por fé. Toda sociedade ensina coisas transcendentais — fantasmas, deuses, bicho-papão e assim por diante; e frequentemente nos dizem explicitamente para ignorar a lógica e aceitar tais coisas por fé ou baseados nas experiências de outras pessoas. Quando chegamos à vida adulta, podemos responder a um evento de forma lógica e crítica ou experimental e intuitiva. Os eventos em si é que frequentemente determinam como respondemos. Se eu lhe dissesse que fui para casa ontem e encontrei um hipopótamo na minha sala, seria mais provável que você risse do que acreditasse em mim, embora certamente não haja nada de impossível nesse evento. Se, por outro lado, eu lhe dissesse que entrei na sala e me assustei com um brilho estranho na cadeira do meu falecido avô, e que a sala esfriou, seria menos provável que você não acreditasse e mais provável que se interessasse e escutasse os detalhes, talvez suspendendo o julgamento afiado que usaria na história do hipopótamo. Às vezes emoções fortes interferem na aplicação do pensamento crítico. Em outras somos enganados com muita esperteza.
A racionalidade frequentemente está em desvantagem em relação ao pensamento intuitivo. O falecido psicólogo Graham Reed usava o exemplo da falácia do apostador: suponha que você esteja observando um jogo de roleta. Saiu preto dez vezes seguidas, e uma poderosa sensação intuitiva cresce em você, dizendo que logo deve sair vermelho. Não pode sair preto para sempre. Mas sua mente racional diz que a roleta não tem memória, que cada resultado é independente dos anteriores. Nesse caso, a luta entre intuição e racionalidade nem sempre é ganha pela racionalidade.
Notem que podemos ligar ou desligar a unidade de pensamento crítico. Como já comentei, podemos desligá-la completamente ao lidar com assuntos religiosos ou transcendentais. Às vezes, nós a ligamos deliberadamente: “peraí, tenho que pensar nisso”, é o que podemos nos dizer quando alguém tenta tirar dinheiro de nós por uma causa aparentemente boa.

A Unidade do Desejo

O aprendizado não acontece num vácuo. Nós não somos receptores passivos de informação. Nós buscamos informações ativamente para satisfazer nossas necessidades diversas. Podemos desejar achar um sentido na vida. Podemos desejar um sentimento de identidade. Podemos desejar nos curar de alguma doença. Podemos desejar estar em contato com entes queridos que já morreram.
Geralmente nós desejamos para diminuir nossa ansiedade. As crenças, sejam falsas ou não, podem suavizar esses desejos. Frequentemente, crenças que podem ser chamadas de irracionais pelos cientistas são as mais eficientes na suavização desses desejos. A racionalidade e a verdade científica tem pouco a oferecer para a maior parte das pessoas em termos de remediar suas ânsias existenciais. No entanto, as crenças em reencarnação, intervenção supernatural e vida eterna podem superar essa ansiedade em certo grau.
Quando mais desejamos, quando estamos com mais necessidade é que somos mais vulneráveis a crenças falaciosas que podem servir para satisfazer aqueles desejos.

A Unidade de Entrada

As informações entram na máquina de crenças às vezes na forma de experiências sensoriais diretas e às vezes na forma de informações codificadas e organizadas que se ouve no boca-a-boca, se lê em livros ou se vê em filmes. Nós somos ótimos para detectar padrões, mas nem todos os padrões que detectamos têm sentido. Nossos processos de percepção trabalham para dar sentido ao ambiente à nossa volta, mas eles fazem sentido — percepção não é a reunião passiva de informações, mas a construção ativa da representação do que acontece no nosso mundo sensorial. Nosso aparato perceptivo seleciona e organiza informações do ambiente, e esse processo está sujeito a muitos tipos de viés bem conhecidos que podem levar a crenças distorcidas. De fato, somos menos influenciáveis por informações que já não correspondam a crenças profundas. Assim, o devoto cristão pode estar muito bem preparado para ver a Virgem Maria; informações ou experiências perceptivas que sugerem que ela apareceu podem ser aceitas mais facilmente sem exame crítico do que por alguém que fosse ateísta. Similarmente acontece com experiências que podem ser consideradas de natureza paranormal.

A Unidade de Resposta Emocional

Experiências acompanhadas de fortes emoções podem deixar uma crença inabalável em qualquer explicação que o indivíduo tenha recebido na época dos fatos. Se alguém está envolvido em um aparente caso de telepatia ou OVNI, então os pensamentos posteriores podem muito bem ser dominados pela consciência de que a reação emocional foi intensa, levando à conclusão de que alguma coisa incomum realmente aconteceu. E as emoções por sua vez podem afetar diretamente tanto a percepção como o aprendizado. Algumas coisas podem ser interpretadas como bizarras ou incomuns devido às respostas emocionais que elas desencadeiam.
Há crescentes evidências de que nossas respostas emocionais podem ser desencadeadas por informações do mundo exterior mesmo antes de termos consciência de que algo aconteceu. Veja esse exemplo, exposto por LeDoux (1994) em seu recente artigo na Scientific American (1994, 270, pp. 50-57):
Uma mulher está caminhando na floresta quando recebe a informação — auditiva, como o farfalhar de folhas, ou visual, como a forma de um objeto delgado e curvo no chão — que dispara uma reação de medo. Essa informação, mesmo antes de chegar ao córtex, é processada na amígdala, que excita o corpo para um passo de alarme. Um pouco depois, quando o córtex já teve tempo suficiente para decidir se o objeto é mesmo uma cobra ou não, esse processamento cognitivo de informação aumentará a resposta de medo e o correspondente comportamento de fuga, ou neutralizará aquela resposta.
Isso é relevante para o entendimento das experiências paranormais, pois frequentemente uma experiência emocional acompanha a suposta experiência paranormal. Uma forte coincidência pode produzir um “zap” emocional que aponta para uma explicação paranormal, porque eventos normais não produziriam tal emoção.
Nossos cérebros também são capazes de gerar incríveis e fantásticas experiências perceptivas para as quais raramente estamos preparados. Experiências fora do corpo (Out of Body Experiences — OBEs), alucinações, experiências de quase-morte (EQMs ou Near-death Experiences — NDEs), experiências de pico — todas elas provavelmente se baseiam não em alguma realidade externa transcendental mas no próprio cérebro. Nem sempre conseguimos distinguir o material que vem do próprio cérebro do material que vem do mundo externo, e portanto podemos atribuir falsamente ao mundo externo as percepções e experiências criadas dentro do cérebro. Temos muito pouco treinamento em relação a essas experiências. Na infância, aprendemos a não confiar, via de regra, em sonhos e pesadelos. Nossos pais e nossa cultura nos dizem que eles são produto de nossos cérebros. Não estamos preparados para experiências mais misteriosas, como OBEs, alucinações, EQMs ou experiências de pico, e podemos estar tão despreparados que somos engolfados pela emoção e a vemos como profundamente significativa e “real” quer ela seja mesmo ou não.
Ray Hyman sempre lembrou aos céticos que não se surpreendessem caso um dia tivessem uma experiência emocional muito forte que parecesse exigir uma explicação paranormal. Dada a maneira com que nossos cérebros funcionam, deve-se esperar tais experiências de tempos em tempos. Se estivermos despreparados, elas podem se tornar experiências de conversão que levam a fortes crenças. Quando eu estava na faculdade, certo dia um colega com quem eu dividia meu escritório e que era tão cético quanto eu em relação ao paranormal, veio para a aula dominado pelo realismo e clareza de um sonho que ele tivera na noite anterior. No sonho, seu tio em Connecticut havia morrido. Tinha sido um sonho muito emocional, e era tão chocante que Jack me contou que se o seu tio morresse pouco depois daquilo, ele não conseguiria mais manter seu ceticismo sobre precognição. A experiência do sonho tinha sido realmente poderosa. Dez anos depois, o seu tio ainda estava vivo, e o ceticismo de Jack sobreviveu intacto.

A Unidade de Memória

Em virtude de nossas próprias experiências, acreditamos na confiabilidade de nossa memória e em nossa capacidade de julgar se uma lembrança é confiável ou não. Contudo, a memória é mais um processo construtivo que uma apresentação literal de experiências passadas, e as memórias estão sujeitas a um forte viés e distorções.
A memória não somente envolve a si mesma no processamento das informações que chegam e na moldagem de crenças; ela própria também é fortemente influenciada pelas percepções e crenças correntes. Ainda assim, é muito difícil que um indivíduo rejeite os produtos de sua própria memória, já que a memória pode parecer tão “real”.

A Unidade de Feedback (Resposta) ao Ambiente

As crenças nos ajudam a funcionar. Elas guiam nossas ações e aumentam ou reduzem nossas ansiedades. Se agimos a partir de uma crença e ela “funciona” para nós, mesmo sendo falsa, por que a mudaríamos? O feedback, ou retorno, do mundo externo reforça ou enfraquece nossas crenças, mas já que as crenças em si influenciam como o feedback é percebido, as crenças podem se tornar bastante resistentes a informações e experiências contrárias. Se você realmente acredita que ETs raptam pessoas, então qualquer evidência contrária pode ser mascarada por uma explicação supostamente racional — em termos de teorias conspiratórias, ignorância alheia ou o que for.
Como mencionei, crenças falaciosas frequentemente podem ter mais valor funcional que aquelas baseadas na verdade. Por exemplo, Shelley Taylor, em seu livro Positive Illusions, relata pesquisas que mostram que pessoas suavemente deprimidas frequentemente são mais realistas a respeito do mundo do que pessoas felizes. Pessoas emocionalmente saudáveis vivem, até certo ponto, construindo crenças falsas — ilusões — que reduzem a ansiedade e auxiliam o bem-estar, enquanto indivíduos deprimidos em certo grau veem o mundo com mais realismo. Pessoas felizes talvez subestimem as chances de contraírem câncer ou serem mortas, e talvez evitem pensar na realidade última da morte, enquanto pessoas deprimidas podem ser muito mais realistas em relação a essas questões.
Uma maneira importante de checar nossas crenças e percepções é compará-las com as crenças e percepções de outros. Se eu sou o único que interpretou o brilho estranho como uma aparição, é mais provável que eu reconsidere essa interpretação do que se várias outras pessoas tiverem a mesma impressão. Nós frequentemente procuramos pessoas que concordam conosco, ou escolhemos livros seletivamente para apoiar nossas crenças. Se a maioria duvida de nós, então mesmo sendo somente parte de uma minoria nós podemos trabalhar coletivamente para dissipar a dúvida e achar a certeza. Podemos invocar conspirações e casos abafados para explicar a ausência de evidências confirmatórias. Podemos conseguir inculcar nossas crenças em outros, especialmente crianças. Crenças comuns podem promover solidariedade social e até uma sensação de importância para o indivíduo e o grupo.

Conclusão

As crenças são geradas pela máquina de crenças sem qualquer preocupação automática pela verdade. A preocupação com a verdade é de uma orientação cognitiva adquirida de ordem superior que reflete uma filosofia subjacente que pressupõe uma realidade objetiva que nem sempre é percebida por nossos sentidos.
A máquina de crenças segue fazendo barulho, reforçando velhas crenças, cuspindo novas, raramente descartando alguma. Às vezes vemos os erros ou bobagens nas crenças de outros. Mas é muito difícil ver o mesmo em nossas próprias crenças. Acreditamos em todo tipo de coisas, abstratas e concretas: na existência do sistema solar, de átomos, pizzas e restaurantes cinco estrelas em Paris. Essas crenças não são diferentes em princípio das crenças em fadas na beira do jardim, em fantasmas em igrejas desertas, em lobisomens, conspirações satânicas, curas milagrosas e assim por diante. Todas elas são similares na forma, todas resultados do mesmo processo, apesar de diferirem muito em conteúdo. Elas podem, contudo, envolver mais ou menos as unidades de pensamento crítico e de resposta emocional.
Pensamento crítico, lógica, razão, ciência — essas são expressões que se aplicam de uma maneira ou de outra à tentativa deliberada de expulsar a verdade da confusão da intuição, percepção distorcida e da memória falível. O verdadeiro pensamento crítico poucas pessoas chegam a aceitar — aquele que não aceita rotineiramente as percepções e memórias. Criações da nossa imaginação e reflexos de nossas necessidades emocionais frequentemente interferem com ou suplantam a percepção da verdade e realidade. Ensinando e encorajando o pensamento crítico nossa sociedade se afastará da irracionalidade, mas nunca teremos sucesso completo em abandonar tendências irracionais devido à natureza básica da máquina de crenças.
A experiência frequentemente é uma ferramenta pobre na busca da realidade. O ceticismo nos ajuda a questionar nossas experiências e a evitar sermos levados a crer no que não é verdadeiro. Devemos tentar nos lembrar das palavras no falecido P. J. Bailey (em Festus: A Country Town): “Onde há dúvida, está a verdade — pois é sua sombra” (“Where doubt, there truth is — ‘tis her shadow”).

    quinta-feira, 23 de setembro de 2010

    OBSERVAÇÃO E CONSCIÊNCIA.


    Muito insisto por aqui na árdua tarefa de desenvolver nossa capacidade de observar como mero espectador. Insisto, não só pelos inúmeros benefícios, mas porque, além disso, pelo fato de existir uma razão muito mais importante e que muito tem haver com o que levaremos conosco para sempre.

    Quando você desenvolve essa habilidade você desperta a consciência, ativa o seu ser interno e permite que a sua parte divina se expresse aqui e agora, hoje e sempre.
    Não consigo encontrar uma razão melhor que essa para incentivar o uso imediato dessa capacidade extraordinária da qual viemos munidos desde sempre.

    E é importante frisar também que sugiro que trabalhe com o que tem. Nosso corpo tem vários sentidos ocultos, existem espíritos e naves espaciais, mas não se prenda a isso . Esqueça por hora essas viagens mais distantes e trabalhe com o que tem: os seus 5 sentidos conhecidos e dedique-se a eles! 

    No dia a dia, no corriqueiro, no comum, no mundano e no simples (sem ser pobre, que fique bem claro). Aí estão os estímulos necessários a sua evolução como SER que é. Não fique pensando que para dar um salto qualitativo precisará de meios extraordinários e incríveis. Tudo conversa de quem não faz e não quer nada. A verdadeira arte de observar a fundo está nas coisas comuns e simples. E estas eu posso encontrar em palácios ou barracos.

    Algumas pessoas terão um desenvolvimento melhor nessa ou naquela área, todavia devemos tentar ser o mais completo possível.
    Quando você observa, você se separa, a parte que observa é a consciência, a parte observada é o ego ou aquela porção que precisa se reintegrar a nós.
    Mas o ego também "observa". E é aí que temos que estar atentos. O ego julga, classifica, define. A consciência apenas observa, apenas contempla sem comentários efusivos.

    Nesse primeiro momento há essa separação para que o exercício da observação e todas as capacidades inerentes a ela possam germinar, crescer e se consolidar dentro de nós.
    Esse ato lubrifica nossos canais energéticos e os prepara para ter sua potência pouco a pouco ampliada até a divindade, até que ela se cristalize na imagem e semelhança do criador.

    Somos criadores! Somos Deuses! Somos às portas do universo e gozamos da plenitude total! Antes de acreditar ou desacreditar nisso, peço que tente lembrar. Precisamos relembrar disso e cada um fará a seu modo. Esse exercício de relembrar não deve passar por julgamentos, lembre-se que você deve apenas observar!

    É imprescindível você reconhecer que o ato de relembrar e observar como espectador de si mesmo irá remover imediatamente todas as amarras que lhe põe dúvidas sobre quem você realmente é!

    Você irá relembrar quem sempre foi, mas vinculado ao ato da criação. Em palavras mais simples, você lembrará de como era quando foi criado. Escrevo de outra forma por que não vejo essa separação temporal, a qual estamos provisoriamente amarrados.

    A cada instante você é criado e recriado num ciclo incessante. A este ciclo chamamos de vida.
    Ela segue seu rumo em diversas formas e nunca pára, pois ela precisa ser observada!
    Uma coisa alimenta a outra. Você observa, cresce e se expande. Com isso o universo também se expande, a vida se expande pois se alimenta desse processo de observar, ser observada e as conseqüências disso.

    POR QUE ÀS CRENÇAS RUINS SÃO DIFÍCEIS DE REMOVER?


    Uma noção básica do pensamento crítico e científico é de que as crenças podem estar erradas, por isso muitas vezes é confuso e irritante para cientistas e céticos que as crenças de tantas pessoas não mudem diante de evidências contraditórias. Nos perguntamos como as pessoas podem continuar acreditando em coisas que contradizem os fatos.

    Essa confusão pode criar uma terrível tendência da parte dos pensadores céticos de diminuir e menosprezar as pessoas cujas crenças não mudam em face às evidências. Elas podem ser vistas como inferiores, estúpidas ou até malucas. Esta atitude provém da falha dos céticos em compreender o propósito biológico das crenças e a necessidade neurológica de que elas sejam resistentes à mudanças. A verdade é que, por causa de seu rigoroso pensamento, muitos céticos não têm uma compreensão clara ou racional do que são as crenças e porque mesmo as mais erradas não desaparecem facilmente. Entender o propósito biológico das convicções pode ajudar os céticos a serem muito mais eficientes no desafio às crenças irracionais e na divulgação de conclusões científicas.

    Biologia e Sobrevivência
    A finalidade primária dos nossos cérebros é nos manter vivos. Claro que ele faz muito mais que isso, mas a sobrevivência vai ser sempre seu propósito fundamental e sempre virá em primeiro lugar. Se formos molestados a ponto de nossos corpos terem energia suficiente somente pra suportar a consciência ou o coração batendo, mas não os dois juntos, o cérebro não tem problema em se "apagar" e escolhe nos colocar em coma (sobrevivência na frente da consciência) ao invés de ficar em alerta até a morte (consciência na frente da sobrevivência).

    Como cada atividade do cérebro serve fundamentalmente pra isso, a única maneira de entender precisamente qualquer função cerebral é examinar seu valor como instrumento de sobrevivência. Mesmo a dificuldade em se tratar desordens comportamentais como obesidade e vícios pode ser entendida examinando sua relação com a sobrevivência. Qualquer redução no consumo calórico ou na disponibilidade de uma substância na qual um indivíduo é viciado é sempre interpretada pelo cérebro como uma ameaça à sobrevivência. O resultado disso é que o cérebro se defende criando aquelas reações típicas da síndrome de abstinência. 

    Sentidos e Crenças
    As ferramentas primárias do cérebro para garantir nossa sobrevivência são os sentidos. Obviamente, devemos ser hábeis em perceber com precisão o perigo para podermos tomar atitudes que nos mantenham em segurança. Para sobreviver precisamos ver o leão na saída da caverna ou ouvir o intruso invadindo a casa no meio da noite.

    Apesar disso, os sentidos sozinhos são inadequados como detectores de perigo porque são limitados em alcance e área. Nós somente podemos ter contato sensorial direto com uma pequena porção do mundo de cada vez. O cérebro considera esse um problema significativo porque mesmo o dia-a-dia requer que estejamos constantemente em movimento, dentro e fora do nosso campo de percepção do mundo como é agora. Entrar em um território que nós nunca vimos ou ouvimos nos coloca na perigosa posição de não ter nenhuma noção dos possíveis perigos. Se eu entrar em um prédio desconhecido em uma parte perigosa da cidade, minhas chances de sobrevivência diminuem porque eu não tenho como saber se o teto está prestes a cair na minha cabeça ou se um atirador está escondido atrás da porta.

    É aí que entra a crença. "Crença" é o nome que damos à ferramenta de sobrevivência do cérebro que existe para aumentar a função de identificação de perigos dos nossos sentidos. Crenças estendem o alcance de nossos sentidos de maneira que podemos detectar melhor o perigo e aumentar nossas chances de sobrevivência em território desconhecido. Em essência elas nos servem como detectores de perigo de longo alcance.

    Funcionalmente, nossos cérebros tratam as crenças como "mapas" das partes do mundo que não podemos ver no momento. Enquanto estou sentado na minha sala de estar não posso ver meu carro. Apesar de tê-lo estacionado em minha garagem há algum tempo, se eu usar os dados sensoriais imediatos, eu não sei se ele ainda está lá. Por isso, neste momento os dados sensoriais são de muito pouca utilidade para eu encontrar meu carro. Para que eu encontre meu carro com algum grau de eficiência, meu cérebro deve ignorar a informação sensorial atual (a qual, se tomada literalmente, não apenas falha em me ajudar a localizar meu carro como indica que ele não existe mais) e se voltar para seu mapa interno do local de meu carro. Esta é minha crença de que meu carro ainda está no lugar onde o deixei. Se referindo à minha crença ao invés dos dados sensoriais, meu cérebro pode "saber" alguma coisa sobre o mundo com a qual eu não tenha contato imediato. Essa faculdade "estende" o conhecimento e o contato do cérebro com o mundo.

    A habilidade de estender o contato com o mundo para além do alcance dos nossos sentidos imediatos aumenta nossas chances de sobreviver. Um homem das cavernas tem muito maiores chances de sobreviver se acreditar que o perigo existe na floresta mesmo que ele não esteja vendo nenhuma ameaça no momento. Um policial estará substancialmente mais seguro se acreditar que alguém parado por infração de trânsito pode ser um psicopata armado apesar de sua aparência inocente. 

    Além dos Sentidos
    Como as crenças não requerem dados sensoriais imediatos para serem eficazes para dar informações ao cérebro, elas têm a função adicional de prover informações sobre o lado da vida que não lida com os sentidos. Esta é a área das abstrações e princípios que envolvem coisas como "razões", "causas" e "significados". Eu não consigo ver a "causa" chamada "zona de baixa pressão" que faz com que a chuva caia torrencialmente na região onde moro, então minha habilidade de acreditar que a baixa pressão é a causa me serve. Se eu fosse depender somente dos meus sentidos para determinar a causa da tempestade, eu nuca poderia saber por quê ela ocorreu. Pelo que eu sei foi produzida por gremlins invisíveis alados que eu teria que acertar com minha espingarda para que o céu clareasse. Portanto a confiança do meu cérebro na "crença" na razão chamada "baixa pressão", ao invés dos dados sensoriais, me ajuda a sobreviver evitando que passe por inúmeros perigos na busca dos pestilentos gremlins da chuva.

    A Resistência das Crenças
    Tanto os sentidos quanto as crenças são ferramentas para a sobrevivência e evoluíram para alimentar um ao outro, por isso nosso cérebro os considera separados, mas igualmente importantes provedores de informação para sobrevivência. A perda de qualquer deles nos coloca em perigo. Sem nossos sentidos não poderíamos conhecer o mundo perceptível. Sem nossas crenças não poderíamos saber sobre o que está fora do alcance de nossos sentidos nem sobre significados, razões e causas.

    Isso significa que as crenças existem para operar independentemente dos dados sensoriais. Na verdade, todo o valor das crenças para a sobrevivência se baseia na sua capacidade de persistir apesar de evidências contraditórias. As crenças não devem mudar facilmente ou simplesmente por causa de evidências que as neguem. Se elas o fizessem não teriam nenhuma utilidade para a sobrevivência. Nosso homem das cavernas não duraria muito se sua crença em perigos potenciais da floresta evaporasse toda vez que ele não visse esses perigos. Um policial que não acreditasse na possibilidade de um assassino se esconder atrás de uma aparência inocente seria facilmente morto.

    Para o cérebro não há absolutamente nenhuma necessidade de que os dados e as crenças concordem entre si. Cada uma delas evoluiu para aumentar e melhorar a outra pelo contato com diferentes seções do mundo. Foram preparadas para poderem discordar. É por isso que cientistas podem acreditar em Deus e pessoas que são geralmente razoáveis e racionais podem acreditar em coisas sem evidências dignas de crédito como discos voadores, telepatia e psicocinese.

    Quando os dados e as crenças entram em conflito, o cérebro não dá preferência aos dados. É por isso que crenças (mesmo crenças ruins, irracionais, bobas ou loucas) raramente desaparecem diante de evidência contraditória. O cérebro não se importa se a crença concorda com os dados, ele apenas se preocupa se a crença ajuda a sobreviver e ponto final. Então enquanto a parte racional e científica de nosso cérebro pode estar pensando que os dados deveriam confirmar as crenças, em um nível mais fundamental ele nem liga pra isso. Ele é extremamente reticente em reavaliar suas convicções. Como um velho soldado com seu revólver que não consegue acreditar que a guerra realmente acabou, o cérebro se recusa a entregar suas armas mesmo que os fatos desmintam o que ele crê.

    Crenças "inconseqüentes"
    Mesmo as crenças que não parecem, estão intimamente ligadas à sobrevivência. Isso porque as crenças não ocorrem individualmente ou em um vácuo. Elas se relacionam umas com as outras em uma rede que cria a visão de mundo fundamental do cérebro. É nesse sistema que o cérebro se sustenta para experimentar consistência, controle, coesão e segurança no mundo. Ele deve manter esse sistema intacto para sentir que a sobrevivência está garantida, isto é, "experimentar a sobrevivência".

    Isso significa que mesmo crenças inconseqüentes podem ser tão importantes para a "experiência de sobrevivência" do cérebro como as que estão obviamente ligadas à subsistência física. Por isso, tentar mudar qualquer crença, não importa quão pequena ou boba ela possa parecer, pode produzir um efeito cascata por todo o sistema e, em última análise, ameaçar a experiência de sobrevivência do cérebro. É por isso que as pessoas freqüentemente defendem até o fim as menores convicções que sejam ameaçadas. Um criacionista não pode tolerar a precisão dos dados que indicam a realidade da evolução não por causa dos dados em si, mas por que mudar qualquer crença relacionada à Bíblia e à natureza da criação quebrará todo um sistema, uma visão de mundo e, em última análise, a experiência de sobrevivência de seu cérebro. 

    Implicações para os Céticos
    Pensadores críticos devem perceber que, por causa do valor de sobrevivência da credulidade, evidências negativas raramente são suficientes para mudar as crenças, mesmo em pessoas "inteligentes em outros assuntos". Para realmente modificar crenças, céticos devem apelar para seus valores de sobrevivência e não apenas para seus valores de precisão dos dados. Isso envolve alguns fatores:

    Primeiro, céticos não devem esperar mudanças de crença simplesmente como resultado dos dados ou pensar que as pessoas são estúpidas porque não mudam de idéia. Devemos evitar nos tornar críticos ou arrogantes em resposta à resistência à mudanças. As pessoas não são necessariamente idiotas só porque suas crenças não concordam com os fatos. Dados são sempre necessários, mas raramente suficientes.

    Em segundo lugar, céticos devem aprender a nunca ficar só nos dados, mas também discutir as implicações que a mudança dessas crenças podem ter na visão de mundo e no sistema de convicções das pessoas envolvidas. Infelizmente, ter acesso às crenças das pessoas é muito mais difícil do que simplesmente apresentar evidências contraditórias. Céticos devem discutir o significado de seus dados em face à necessidade do cérebro de manter suas convicções para ter um senso de totalidade, consistência e controle. Céticos devem se acostumar a discutir a filosofia fundamental e a ansiedade existencial que se estabelece quando crenças profundas são abaladas. A tarefa é tão filosófica e psicológica quanto científica.

    Terceiro, e talvez mais importante, céticos devem sempre perceber o quanto é difícil para as pessoas verem suas convicções desafiadas. É , quase literalmente, uma ameaça ao senso de sobrevivência de seus cérebros. É completamente normal que as pessoas fiquem na defensiva em situações como essas. O cérebro acha que está lutando pela própria vida. É uma pena que isso possa produzir comportamentos provocativos, hostis e até viciosos, mas é também compreensível.

    A lição que os céticos devem aprender é que as pessoas geralmente não têm a intenção de serem teimosas, irracionais, nervosas, grosseiras ou estúpidas quando suas convicções são ameaçadas. É uma luta pela sobrevivência. A única maneira efetiva de lidar com esse tipo de comportamento defensivo é amenizar a luta ao invés de inflamá-la. Ficar sarcástico ou menosprezar o interlocutor só dá mais motivos para que as pessoas se sintam ameaçadas ( "É claro que somos contra os céticos! Olha como são esnobes e hostis!) ao invés de se concentrar na verdade.

    Os céticos só poderão ganhar a guerra pelas crenças racionais se continuarem, mesmo contra respostas defensivas, mantendo um comportamento digno e cuidadoso que demonstre respeito e sabedoria. Para que os dados falem alto, os céticos devem sempre manter o controle e não se irritar.

    Finalmente, o que deve servir de consolo é que a parte realmente fantástica disso não é que somente algumas crenças se modifiquem ou que as pessoas sejam tão irracionais, mas sim que as crenças de qualquer um podem se modificar. A habilidade que os céticos possuem de alterar suas próprias convições de acordo com os dados é um verdadeiro dom; uma capacidade poderosa, única e preciosa. É genuinamente uma "alta função do cérebro" no sentido em que vai contra algumas das urgências biológicas mais fundamentais. Os céticos devem apreciar o poder e, verdadeiramente, o risco que essa habilidade atrai. Eles possuem uma aptidão que pode ser assustadora, modificadora e capaz de causar dor. Ao projetar essa habilidade nos outros devem ser cuidadosos e sábios. Devem sempre desafiar convicções com cuidado e compaixão.

    Céticos devem sempre manter os olhos no objetivo. Devem adotar a visão de longo prazo. Devem tentar vencer a guerra pelas crenças racionais, não entrar numa luta até a morte de uma batalha com uma pessoa em particular sobre uma convicção única. Não são só os dados e os métodos do céticos que tem que ser limpos, diretos e puros, mas também sua conduta e comportamento.

    quarta-feira, 22 de setembro de 2010

    AS HISTÓRIAS DE CÉUS E PARAÍSOS



    Quero deixar claro de uma vez por todas o que se passa com essas histórias que contam por aí sobre paraíso, céu, inferno e outros "bichos mais"...

    Estamos vendo nas telas de cinema o filme "Nosso lar" psicografado pelo Chico Xavier, um grande sucesso de público. As pessoas gostam de ter uma "ideia" de como seriam ou serão suas vidas pós "mortem". Absolutamente nada contra o velho Chico, mas...

    Essa curiosidade se dá basicamente pelo medo do desconhecido e por nossa total descrença de que somos bem capazes de saber por nós mesmos (sem o auxílio de quem quer que seja) como é o "paraíso".

    Muitas de nossas experiências aqui no mundo das formas, são experiências que jamais poderemos descrever com precisão, são coisas exclusivamente nossas, e apesar de haver coisas "semelhantes", são únicas, ainda assim. Por exemplo: fazer cocô, xixi, ter orgasmo e tantas outras. Cada um viverá isso a seu modo. Os tipos de sensações, sua intensidade, a memória celular residual são únicas, apesar do ato ser o mesmo. Isso transforma completamente, não só as sensações e as emoções geradas, mas também a experiência em si.

    Assim é, essa coisa de paraíso, céu, inferno e tudo o mais. Eles não tem forma pré-definida! Veja, não existe um modelo, um lay-out, uma planta ou lá o que o valha. Contrariando mesmo a mensagem que não só o filme, mas tantos outros livros, não só do Chico, passam.

    Mas por que isso acontece então? Ao meu ver se existe a demanda, existirá quem forneça. Se as pessoas buscam essa informação (do lado de fora delas), existirá quem se "qualifica" a mostra-las ou ainda: a vendê-las.

    Temos então que dar forma ao "produto". Produto que não tem forma ou finalidade não vende. Se desejo lhe explicar como é o "céu", preciso fazer isso com algo que lhe faça sentido, que lhe seja familiar ou mesmo compreensível. Só que, "sem querer" eu tiro de você o que você tem de mais importante: A liberdade de ver por conta própria e do seu jeito!

    Você ficará preso a conceitos, formas, idéias pré-concebidas, coisas que os outros descreveram e formará em sua mente uma imagem e uma sensação que pode estar muito distante daquilo que realmente é.
    O paraíso, o céu, o inferno e a vida que tu levas tem a forma que tu mesmo dá a elas! É por isso que existem muitas descrições diferentes do que seria e do que não seria esse paraíso.

    Essa "região" que tu desembarca quando abandona seu corpo físico, não é uma região, no sentido que tens com relação a esse nosso mundo tridimensional. Ela não tem uma localização específica, ela está em toda a parte, no aqui e agora. Você não vai para lá, você já está lá!

    Reconheço que com essa noção espaço-tempo que temos daqui, fica difícil compreender somente pelo racional o significado do que eu digo. E o que eu digo vai muito mais além das quebras de paradigmas e de uma nova forma de pensar: Eu falo de liberdade.

    Quando se é livre, não temos medo da morte, medo do desconhecido e medo da vida. Aceitamos e permitimos mesmo aquilo que ainda não compreendemos bem e deixamos a vida fluir, acontecer.

    Somos tomados por um puro sentimento de confiança que nos extasia a todo o instante. Ficamos ávidos por sorver o mais puro néctar da existência e nem pensamos no depois. Somente no agora, no dia de hoje. 

    Um dia de cada vez nos remete ao que há de melhor. E aí, o medo cai e a vida acontece. Sendo assim, o paraíso se "forma" e cristaliza dentro de cada um de nós. Isso não é poesia, apenas palavras que não tentam descrever, mas sim transmitir, um pouco de sentimento, pois só ele faz, o nosso verdadeiro paraíso.

    O paraíso não é a descrição que faz e sim a que sente.

    sexta-feira, 17 de setembro de 2010

    ASPECTOS PRÁTICOS DA TEORIA DO CAOS.



    Atendendo a pedidos, comentarei aqui aspectos práticos, sobre como olhar para o caos e conseguir enxergar uma certa ordem ou uma razão de ser.

    Ao olhar o caos da vida moderna e mais ainda, quando vemos o caos em nossas próprias vidas, muitos de nós só percebem desordem e bagunça. Ficamos atônitos e sem rumo. Essa atitude de desespero, apesar de natural diante do medo que nos envolve, veda qualquer oportunidade de ver a solução que está implícita nessa aparente desordem.

    O ideal seria você relaxar e se postar em uma condição de mero observador. Mas como diria o velho ditado: "Pimenta nos olhos dos outros é refresco"... Reconheço a dificuldade que se apresenta, uma vez que nossa educação não privilegia o exercício da observação como movimento natural desde os primórdios de nossa existência. 

    Ao contrário, somos sempre induzidos, quando não obrigados, a seguir a opinião e o ponto de vista dos outros. Na verdade, muitos de nós, se encontram hoje numa condição de total escravidão a esses ditames.

    Contudo, quero deixar claro aqui de uma vez por todas que não existe outra saída para uma vida melhor que não passe pela auto-libertação da opinião dos outros e a investida séria no ato de observar.

    Sendo assim para que você consiga olhar o caos com outros olhos é necessário:

    1 - Relaxar, mas se não for possível, num primeiro momento, siga assim mesmo!
    2 - Comece a exercitar seu poder de observação, e faça isso em todos os aspectos da sua vida. Desde ler os rótulos dos produtos, prestando a atenção na forma, conteúdo e todos os detalhes. Indo a fundo por exemplo, em quantos homens estão de barba feita naquele dia e olhando tudo a sua volta, como aquela fofoqueira da janela. Sendo que sua janela não será fixa como a dela. Você a levará por toda a parte.
    3 - Desconsidere o mais que puder a opinião dos outros. Veja, isso nada tem haver com desrespeitar o próximo, apenas trata-se de que cada um cuide da sua própria vida.
    4 - Observar sem fazer juízo de valor. A fofoqueira observa tudo, mas fica o tempo todo emitindo opiniões. De início isso parecerá uma tarefa quase impossível, mas lembre-se sempre que o que eu sugiro aqui deve começar aos poucos e ir criando um movimento natural de sintonia com quem realmente você é! Se observa mas se envolve com o que observa, deixa de observar com profundidade, uma vez que está envolvido. É um trabalho! Mas vale a pena tentar!

    Veja, quero reforçar essa parte pois ela é muito, muito, muito importante! Devemos adquirir o movimento natural de contemplar, apreciar e ver como espectadores de nós mesmos. Sem isso, nunca veremos ordem ou uma certa lógica no caos!

    Use sua imaginação e se observe como se estivesse numa arquibancada sentado assistindo a um jogo.

    Bem, dito isso, vamos aos finalmentes:
    - Quando eu olho para o caos do mundo ou da minha vida, não adianta eu querer dar interpretações a eles. É inútil e mera perda de tempo tentar analisar sob o ponto de vista racional, mesmo que consigamos uma "explicação" para suas razões.

    Veja, explicações existem, o caos guarda uma interconexão com sucessivos movimentos naturais e de pessoas em todo o planeta. Todavia o nosso foco deve ser, antes de tudo, compreender o que se passa conosco e não com aquela situação específica.

    Se você exercita seu poder de compreender o que se passa contigo em razão dos sentimentos que nutre, a compreensão de tudo o mais que existe chega a você sem qualquer esforço.

    O caos do mundo ou da comunidade que vive também pode ser perfeitamente compreendido entrando em contato com esse mundo de emoções, sentimentos e pensamentos que habitam seu universo interior. O caos é apenas uma imagem espelhada!

    Quando entender a maneira como olha para o mundo e que sentimentos esse olhar produz e o que disso resulta, tudo começa a fazer sentido, inclusive o caos.
    A beleza e a magia do caos está justamente aí: Ele comporta várias razões e ao mesmo tempo não tem o menor sentido, pois ele expressa nossa realidade interior, nossos conflitos, medos e pontos de interrogação. Sendo assim devemos usa-lo como espelho. 

    Olhe para o caos e tente perceber o que sente.

    Se é medo, por exemplo, continue observando o lado de fora, ou seja a situação caótica que vive, pois ela trará até a sua visão tudo aquilo que precisa ver e está "escondido" dentro de você!

    O caos nada mais é que um forte estímulo a tudo aquilo que precisa ser vivido, sentido e observado!

    Diante disso, a atitude mais sensata seria abraçar o caos! Apreciá-lo, vive-lo e como disse e não me canso de repetir, observa-lo sem fazer juízo de valor.

    É óbvio que não ficará numa atitude passiva diante do caos. Algo precisa ser feito. E esse algo começa pelo ato de observar, segue até o amadurecimento dessa vivência e após nascer a consciência, você age com eficácia. Suas ações ganham força e sentido, pois estão embasadas na plena consciência das suas emoções.

    Se percebe o que sente, não reprima, aceite! Sinta esse medo ou qualquer outro sentimento que lhe arrepia a espinha! Um pouco de vontade basta. 

    Algumas pessoas recuam diante do que sentem, pois não confiam em si mesmas, e em seu maravilhoso sistema de emoções do seu corpo. Temem o que desconhecem!

    Seu corpo foi projetado para sentir todas às emoções e vivê-las plenamente. O caos da sua vida ou do mundo que lhe cerca são acessórios que forçam a você remexer naquele baú empoeirado que se encontra guardado há muito tempo e precisa ser descoberto, conhecido ou reconhecido.

    Quando aceita e vive com desprendimento o caos, a vida lhe agradece trazendo-lhe todas às perguntas, todas às respostas e no final o silêncio maravilhoso do reordenamento que acontece de forma automática!