domingo, 18 de março de 2012

A SABEDORIA ARTESÃ.


O universo produz os fenômenos em bloco. A criação no momento em que pensa e sente, acontece no astral, na ante-sala paralela do mundo das manifestações, de forma instantânea. Aqui, neste nosso mundo tridimensional e das formas físicas, estamos separados pelo trajeto, por um determinado número de pontos entre o início e o fim.  

E existem razões para isso. Se bem que elas, por si só, não são fatores determinantes de que a realidade somente se dará dessa forma. Digamos que estamos nos referindo a maneira mais usual e comum, bem como a mais aceita como sendo a "verdadeira".

O contraste e a diversidade estão em tudo. Sendo assim o "modus operandi" das criações, ou seja, o jeito de criar e fazer manifestar aqui no físico pode variar de pessoa pra pessoa. Nem todo mundo vai de um bairro para o outro em sua cidade exatamente pelo mesmo caminho e nem da mesma forma. Outra coisa é que nunca devemos eleger esta ou aquela como a melhor forma de criar, ou seja, eu posso chegar a outro bairro mais rápido, mas posso ter perdido a chance de apreciar a paisagem, de ter visto alguma loja com algo interessante e que estava procurando, ou então posso ter gasto mais combustível ou ter feito o carro ter sofrido pelo caminho mais esburacado. 

A regra é: não existe regra! Somos livres para criar da maneira que melhor nos convier, e é nosso dever a cada dia, descobrir novas formas de fazê-lo.

Como estamos ainda muito presos a questão da trajetória, dos degraus que devem ser galgados um a um, o mais sensato é que procedamos assim, por hora. Mas nunca esquecendo de que no universo, não existe essa coisa de "devagar e sempre" ou aos pouquinhos. O universo é instantâneo por natureza. Para ele passado, presente e futuro são uma única coisa!

Divagações a parte, usaremos aqui a sugestão de que o trabalho se assemelha ao de um Artesão. Se deseja aprender um pouco mais sobre a criação deliberada, observe como o artesão trabalha. De preferência aquele artesão do interior, com a mente despida do espírito de competição e de produção industrial. Falo de alguém que trabalha basicamente com as mãos, sem pressa, feliz, sorridente, alegre e aparentemente desconectado do mundo externo. Sente-se ao lado e observe. Nada contra as criações de caráter industrial. Elas tem o seu papel neste mundo. Mas não chegam tão fundo quanto no exemplo que sugiro logo a seguir.

O direcionamento dos pensamentos, o tempo que os mantém direcionados, o desapego automático e natural, mas sem perder a sintonia, são ferramentas importantes no processo criativo e de realização. Veja, o artesão começa sua obra com uma ideia em mente. Mantém o pensamento direcionado, bem como a sintonia no que faz, mas sem se preocupar, se vai mesmo sair do jeito que imaginou e num certo tempo. Ele faz. Acredita que pode. Não discute internamente se será capaz ou não. Ele vai talhando, tricotando, fiando, pintando ou mesmo esmerilhando a peça com absoluta confiança de que o trabalho final será perfeito. Não o meu ou o seu perfeito! e sim o dele mesmo, pois tem ciência de que fez e faz o seu melhor.

Essa consciência de que o seu melhor é o perfeito, trás, além da gratitude gratificante, uma sensação de liberdade que te libera de um monte de amarras que te sufocam num nível que talvez você nem mais perceba. Mas que ao sair, nem sabe descrever o tamanho do alívio.

No final, ele percebe que o que ficou pronto, quase nada tinha a ver com a ideia original. Mas como ele não estava apegado a ela, sente-se muito feliz por ter visto sua obra ainda melhor, reforçado pelo fato de ter feito a viagem despreocupado.

Ele teve olhos para ver esta diferença. Tem artesãos que não gostam e chegam a destruir o que fizeram, para tentar fazer do jeito que inicialmente queriam. Neste caso, assim como em nossas vidas, duas coisas podem ocorrer: ele acaba repetindo a mesma obra que quebrou indefinidamente ou então desiste no meio e talvez até no finzinho, quando tudo estava prestes a se revelar como um obra prima.

Desperdiçamos assim, belas obras que poderiam servir de inspiração e de alegria à muita gente. Agradar a todos nunca será possível porque a diversidade e o contraste muitas vezes desloca a nossa sintonia para patamares muito diferentes. E isso é bom, pois precisamos desta variedade para que se amplie o espaço e as infinitas expressões do universo, representadas aqui por cada um de nós. Do contrário seríamos uma espécie de máquina repetitiva.

Ainda sim, muita coisa é copiada, muita coisa é refeita e parece ter cara de nova, mas são apenas meras maquiagens. Não deixa também de ser criação, mas sem aquele toque tão profundo de originalidade. Criar significa que tem que acessar a energia do conhecimento universal que paira no ar. O simples artesão consegue fazer porque está desprendido. Ele não é melhor que qualquer pessoa, apenas se conecta pela desconexão, pelo desapego pelo que mais ama. Perceba o paradoxo. Sempre fomos ensinados que quem ama cuida. Só que ao longo da história, habituamo-nos a repetir a tradição, as velhas manias, sem perceber que estamos fazendo algo que não queremos. Amar, nada tem a ver com prender, com reter. Amor e liberdade andam juntos não só por seus pressupostos, mas sim por pura afinidade.

O artesão pode até vender suas peças depois, mas este não é seu principal objetivo. Seu objetivo é ser um com a peça, com a montagem e a criação do que realiza. Se observar o trabalho de um verdadeiro artesão, irá perceber que está absolutamente concentrado. Alguns pintores, digamos, mais sensíveis, exigem inclusive silêncio total ao seu redor enquanto pintam. Eles parecem autistas. Parecem que estão fora daqui. Mas sabem muito bem tudo que acontece a sua volta. E é esta analogia que peço que tente trazer para sua vida diária. É muito importante entender que a conexão desapegada com seus desejos, colocam você numa catapulta energética que te lança ao infinito.

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