quarta-feira, 16 de março de 2011

TOME UMA XÍCARA DE CHÁ.




Uma historieta Zen:




Joshu, um mestre Zen, perguntou a um novo monge do mosteiro: “Já o vi antes?”

O novo monge respondeu: “Não, senhor.”
Joshu disse: “Tome uma xícara de chá.”
Joshu, então, voltou-se para um outro monge: “Já o vi por aqui antes?”
O segundo monge respondeu: “Sim, senhor, é claro que sim.”
Joshu disse: “Então tome uma xícara de chá.”
Mais tarde, o monge administrador do mosteiro perguntou a Joshu:
“Como é que o senhor faz o mesmo oferecimento de chá para qualquer resposta?”
Diante disso, Joshu gritou: “Administrador, o senhor ainda está aqui?”
O administrador respondeu: “É claro, mestre.”
Joshu disse: “Então, tome uma xícara de chá.”

A história é simples, mas difícil de ser entendida. É sempre assim. Quanto mais simples
a coisa, mais difícil de ser entendida. Para se entender, algo complexo é necessário.
Para entender, você tem de dividir e analisar. Uma coisa simples não pode ser
dividida e analisada – não há nada para se dividir e analisar – a coisa é tão simples.
O mais simples sempre escapa à compreensão.

É por isso que Deus não pode ser compreendido. Deus é a coisa mais simples,
absolutamente a coisa mais simples possível. O mundo pode ser compreendido;
ele é muito complexo. Quanto mais complexa é a coisa, mais a mente pode trabalhar
nela. Quando a coisa é simples não há nada para queimar as pestanas, a mente não
pode funcionar.

Os lógicos dizem que qualidades simples são indefiníveis. Por exemplo: alguém lhe
pergunta o que é amarelo. É uma qualidade tão simples, a cor amarela, como você a
definirá? Você dirá: “Amarelo é amarelo.” O homem dirá: “Isso eu sei, mas qual a definição
de amarelo?” Se você diz que amarelo é amarelo, você não está definindo, você
está simplesmente repetindo a mesma coisa novamente. É uma tautologia.


G. E. Moore, uma das mentes mais penetrantes deste século, escreveu um livro
entitulado Principia Ethica. O livro inteiro resume-se a um esforço muito persistente para
definir o que é o bem. Fazendo esforços em todas as direções, em duzentas ou
trezentas páginas – e duzentas, trezentas páginas de G. E. Moore valem três mil páginas
de qualquer outro –, ele chegou à conclusão de que o bem é indefinível. O bem não pode
ser definido – é uma qualidade tão simples.

Quando algo é complexo, há muitas coisas ali; você pode definir uma coisa em função de
uma outra que esteja presente ali. Se eu e você estivermos numa sala e você me
perguntar “Quem é você?”, eu poderei, pelo menos, dizer que eu não sou você. Esta será
minha definição, a indicação. Mas se eu estiver sozinho numa sala e eu me fizer a pergunta
“Quem sou eu?”, a pergunta ressoará, mas não haverá resposta. Como definir?

É por isso que se perde Deus. O intelecto nega-o, a razão diz não. Deus é o denominador
mais simples da existência – o mais simples e o mais básico. Quando a mente para, não há
nada diferente de Deus – assim, como definir Deus? Ele está sozinho na sala. É por isso que
as religiões tentam dividir, pois assim torna-se possível uma definição. Eles dizem: “Este
mundo não é isso; Deus não é o mundo, Deus não é matéria, Deus não é corpo, Deus
não é desejo.” Essas são formas de definir.

Você tem de colocar alguma coisa em oposição a alguma coisa, então uma fronteira pode
ser desenhada. Como estabelecer uma fronteira se não há um vizinho? Onde colocar a
cerca de sua casa se não existe vizinhança? Se não há ninguém além de você, como você
pode cercar sua casa? A fronteira de sua casa baseia-se na presença de seu vizinho.
Deus é sozinho, ele não tem vizinhos. Onde ele começa? Onde ele acaba? Em lugar nenhum.

Como você pode definir Deus? Exatamente para definir Deus, o Diabo foi criado. Deus não
é o Diabo – pelo menos esse tanto pode ser dito. Você pode não ser capaz de dizer o
que é Deus, mas você pode dizer o que ele não é: Deus não é o mundo.

Eu estava lendo um livro de um teólogo cristão. Ele diz que Deus é tudo exceto o mal.
Isso, também, é suficiente para definir. Ele diz: “Tudo, exceto o mal” – esse tanto
estabelecerá uma fronteira. Ele não está consciente de que se Deus é “tudo”, então, de
onde vem esse mal? Ele deve estar vindo de “tudo”.

Caso contrário, há alguma outra fonte de existência além de Deus, e essa outra fonte
de existência torna-se equivalente a Deus. Então, o mal nunca poderá ser destruído; tem a
sua própria fonte de existência. Então, o mal não é dependente de Deus; assim, como Deus
pode destruí-lo? Deus não o destruirá. Uma vez que o mal seja destruído, Deus não poderá
ser definido.

Para defini-lo, ele precisa que o Diabo esteja sempre lá, ao lado dele. Os santos precisam
dos pecadores, de outra forma eles não existiriam. Como você saberia quem é um santo?
Todo santo precisa de pecadores à sua volta; esses pecadores fazem a fronteira.

A primeira coisa a ser entendida é que coisas complexas podem ser entendidas, coisas
simples não podem. Uma coisa simples fica só.

Essa historieta Zen sobre Joshu é muito simples. É tão simples que escapa a você: você
tenta pegá-la, você tenta capturá-la, ela escapa. Ela é tão simples, que sua mente não
pode trabalhar sobre ela. Tente sentir a história. Eu não direi tente entender, porque você
não poderá entendê-la. Tente sentir a história. Muitas coisas estão ocultas dentro dela, se
você tentar senti-las. Se você tentar entendê-la, não haverá nada nela – toda a
historieta é absurda.


Osho.

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