sábado, 7 de maio de 2011

TOME UMA XÍCARA DE CHÁ


Uma historieta zen:

Joshu, um mestre Zen, perguntou a um novo monge do mosteiro: Já o vi antes? O novo monge respondeu: Não senhor.
Joshu disse: Tome uma xícara de chá.
Joshu, então, voltou-se para outro monge e disse: Já o vi por aqui antes?
O segundo monge respondeu: Sim senhor, é claro que sim.
Joshu disse: Então tome uma xícara de chá.
Mais tarde o monge administrador do mosteiro perguntou a Joshu:  Como é que o senhor faz o mesmo oferecimento de chá para qualquer resposta?
Diante disso, Joshu gritou: Administrador, o Senhor ainda está aqui?
O Administrador respondeu: É claro, mestre.
Joshu disse: Então tome uma xícara de chá.

Esta história é simples, mas difícil de ser entendida. Quanto mais simples, mais difícil de entender. Para se entender algo complexo é necessário dividir em partes e analisar.

Uma coisa simples não pode ser dividida e analisada - não há nada para se dividir e analisar - a coisa é tão simples. 
O simples sempre escapa a nossa compreensão.

É por isso que Deus não pode ser compreendido. Deus é a coisa mais simples. Absolutamente a coisa mais simples. O mundo pode ser compreendido; ele é muito complexo. Quanto mais complexa é a coisa, mais a mente pode trabalhar nela. 

Quando a coisa é simples, não há nada para queimar as pestanas, a mente não pode funcionar assim.
Os lógicos dizem que as qualidades simples são indefiníveis. 

Por exemplo: alguém lhe pergunta o que é o amarelo. É uma qualidade tão simples a cor amarela, como você a definirá? Você dirá: amarelo é amarelo. O homem dirá: isso eu sei, mas qual é a definição de amarelo? Se você diz que amarelo é amarelo você não está definindo, está apenas repetindo a mesma coisa novamente. É uma tautologia.

G. E. Moore uma das mentes mais penetrantes deste século, escreveu um livro intitulado: "principia Ethica". O livro inteiro resume-se a um grande esforço para definir o que é o bem. Mas depois de duzentas ou trezentas páginas ele chegou a conclusão de que o bem é uma coisa tão simples que torna-se indefinível.

Quando algo é complexo, há muitas coisas ali; você pode definir uma coisa em função de uma outra ou até de duas, três outras coisas ali.
Ao nos encontrarmos você me pergunta: quem é você? eu posso ao menos dizer: Eu não sou você. Esta será a minha definição, a minha indicação.

Mas e se eu estiver a sós na sala, e perguntar quem sou eu? A pergunta ressoará, mas não haverá resposta.
Como definir?

É por isso que se perde Deus. o Intelecto nega-o, questiona-o, pois não consegue definir algo tão simples. Deus é a coisa mais simples e mais básica da existência. Quando a mente pára, não há nada diferente de Deus. Sendo assim, como defini-lo?

As religiões tentam dividir, pois assim é possível dar uma definição. Deus não é o mundo, Deus não é o corpo, Deus não é matéria, não é o desejo. Essas são formas de tentar definir.

Você tem que colocar alguma coisa em oposição a outra, riscar uma fronteira, estabelecer parâmetros. Mas como colocar fronteira se não há vizinho? Aonde colocar a cerca da sua casa se não existe vizinhança? Se não há ninguém além de você qual é a utilidade da cerca?

A fronteira da sua casa baseia-se na presença do vizinho. Deus é sozinho, ele não tem vizinhos. onde ele começa? Onde ele acaba? Em lugar nenhum.
Como você pode definir Deus então? O diabo foi criado. Deus não é o diabo. Pelo menos esse tanto pode ser dito. 

Você pode não ser capaz de dizer o que é Deus, mas pode dizer o que ele não é: Deus não é o mundo.
Eu estava lendo um livro de um teólogo cristão, e ele diz que Deus é tudo exceto o mal. Isso também é suficiente para definir. Ele diz: "Tudo, exceto o mal". Esse tanto estabelecerá uma fronteira. Ele não está consciente de que se Deus é tudo, de onde então vem esse "mal"? Ele deve estar vindo de tudo.

Caso contrário, há alguma outra fonte de existência além de Deus. E essa fonte de existência torna-se equivalente a Deus. Então, o mal nunca poderá ser destruído, ele tem a sua própria fonte de existência.  O mal não é dependente de Deus, assim como pode Deus destruí-lo? Ele não o destruirá, porque se o fizer, não mais poderá ser definido.

Para defini-lo, vai sempre precisar que o diabo esteja a seu lado. Os santos precisam dos pecadores, de outra forma eles não existiriam. Como você saberia quem é santo sem pecadores?
Coisas complexas podem ser entendidas, coisas simples, não. A simplicidade escapa a qualquer tipo de explicação.

Essa historieta Zen é simples demais. Tente entende-la. Verá que sua mente não consegue trabalhar nela. Então você dirá: Não há o que entender. Agora tente sentir a história. Não direi tente entender porque não há o que entender. Procure sentir, talvez haja algum sentido. Mas se tentar entender verá que tudo não passa de um absurdo.
BY OSHO. 

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