sábado, 28 de maio de 2011

O RESTAURADOR DE CONFIGURAÇÕES.


Tenho visto por aí muita gente falar, ensinar aos quatro cantos, que basta ter um bons pensamentos/sentimentos e cultivar-los, que tudo ficará bem, e que a lei da atração atuará a seu favor.
A coisa é muito mais simples que isso, e sendo assim, torna-se por si mesma incompreensível por meio intelectual.

Todo o nosso trabalho aqui resume-se em experimentar. Sem nenhuma meta específica. Você não veio aqui pra cumprir metas. Mesmo havendo tendências e coisas incompletas a serem feitas. Contudo, reconheço que há essa coisa terrível de competição, do "ter que fazer", encrostado na cabeça das pessoas.

Ganhar consciência através de algum estímulo que as palavras possam trazer é um caminho sem fim. Este processo tem em seu bojo a auto-renovação e por isso torna-se infinito.

Em todo o blog recomendo insistentemente bons pensamentos e sentimentos e falo na questão da atenção que deve-se ter com tudo que acontece contigo e com o mundo. Observar, perceber e sentir é a chave. Tudo isso é um ganho de consciência. E quando me refiro aos pensamentos/ sentimentos falo neste sentido: Perceber o que pensa e o que sente. Essa prática com o tempo irá ampliar seus receptores, seus sensores instalados por todo o corpo.

Nossa estrutura psicológica tem diversos meandros, diversos labirintos que parecem não nos levar a lugar algum. Mas como em todo labirinto, não existe propriamente um objetivo principal, um caminho a ser seguido e que te leve a algum lugar.

Entenda, todo o labirinto tem uma entrada e uma saída. E a ânsia de achar que precisa da saída te derruba a todo o instante. Talvez seja melhor conhecer detalhadamente todos os caminhos sem se preocupar em sair. 

Assim, vai se situando e naturalmente acha a saída. Talvez nem vá querer sair. Quem sabe até queira construir um labirinto maior e mais diverso. Ou ainda, no final, descubra que nem labirinto havia.

Reforço novamente: É um processo de tomada de consciência. E como tal não pressupõe regras, roteiros e caminhos seguros, com começo, meio e fim.

É somente um caminho a se passar. Simples. Você passa, percebe, sente e pronto! Continua seguindo...
Existem muitos outros pequenos detalhes que, como disse, precisam ser percebidos, e são fáceis de serem.

Por exemplo: Nosso cérebro, nossa mente, tem uma espécie de "dispositivo de segurança", como se fosse um "Restaurador de Configurações" de um computador, que se encarrega de manter os padrões vigentes para que, ao acordarmos de manhã, continuemos a viver de onde paramos no dia anterior. Pouco importa se está seguindo em frente ou rodando em círculo. 

É uma espécie de memória não volátil que se expressa através de hábitos, daquilo que escapa do processo simplista de lembrar. Falo de tudo que ocorre no "automático". Apesar de haver uma conexão entre a memória e o processo de lembrar  no "automático", mas que não cabe ao que me refiro.

Esse restaurador também é responsável pelo número de horas que sente "necessidade" de dormir, pelos mesmos tipos de comida que ingere, e no caso de ter, por exemplo, mania de doença, ele se encarrega de providenciá-la ou pelo menos seus sintomas.
Se observar bem, verá que ele é responsável até para onde você olha todos os dias...

Esse dispositivo foi criado para assegurar uma certa solução de continuidade enquanto o processo de tomada de consciência não se desenvolve totalmente. Estamos numa espécie de estado sonâmbulico, meio que dormindo acordados, e por isso, neste momento, precisamos desta muleta.

Com o tempo, nasce o desejo de progredir e de criar. Esses desejos que são latentes em nós, pressionam o processo de tomada de consciência. Mas ainda precisaremos do tal "Restaurador de Configurações", só que a partir de um certo ponto, este começa a atrapalhar.

Você percebe que nasceu para criar. Percebe que bons pensamentos/sentimentos movimentam a carga eletrônica que materializa o processo criativo. Percebe que pode SER, TER e FAZER o que quiser. Mas na hora H "vê" que na realidade física esse poder de precipitação, inerente a todos nós, não acontece, pelo menos não de uma maneira muito clara pra você, devido principalmente ao retardo de tempo que há entre o querer e o realizar.

Mesmo havendo "percalços" sente-se com calma e observe. 

Somos feitos de hábitos, percebeu? Temos vários hábitos e manias. Alguns até que bons, outros nem tanto. O tal "Restaurador de Configurações" mantém os hábitos, de forma que nossa vida tenha uma certa "coerência", tenha seguimento. Com o processo de tomada de consciência, percebe-se pouco a pouco que este dispositivo, importante no começo da jornada, começa a se tornar um estorvo, porque por medida de precaução e dependendo da "programação" embutida nele, nosso sistema permite que ele interfira nas decisões tanto da alma, como da personalidade e das diversas memórias ativas (ego).

E outras palavras: Ser "coerente" significa andar em círculos. E chamo de "coerente" o sujeito que se adapta perfeitamente a um sistema vigente, sem questioná-lo e sem perceber como se sente em relação a isso.

Algumas pessoas conseguem até ir um pouco mais adiante. Criam, são, tem e fazem quase tudo que querem e ainda sim tem o tal restaurador funcionando. Isso depende muito da programação que foi inserida. Quanto mais amorosa, menos ele interfere no seu processo natural de criar.

O ato de criação é um ato de liberdade. Você precisa ser livre pra criar. E traumas roubam a sua liberdade.
Todavia, liberdade em nossa esfera é muito relativa, uma vez que tudo interage e é interdependente em maior ou menor grau.

Mas você não precisa enfiar o dedo na tomada e levar muitos choques para se libertar dos traumas e do "restaurador de configurações". Basta o que? Advinha? OBSERVAR!
Perceba seus hábitos. Veja o que faz durante o dia. Não julgue, apenas observe. Veja tudo aquilo que rejeita e o que aceita em sua vida. Procure identificar um padrão, uma repetição, mesmo em situações diferentes. 

Por exemplo, eu posso ficar com uma determinada pessoa, aparentemente porque gosto. Mas se prestar  atenção verei que posso estar com medo de uma mudança, por considerar que o desconhecido pode ser perigoso, e ficando com ela, evito e me sinto mais isolado do risco de partir para uma nova relação. 

Isto é o "Restaurador de Configurações" que atua como sendo o nosso sistema de crenças. Na verdade o Restaurador é um arquivo de crenças e ele as "organiza" de forma a potencializar seu efeito.

Se de alguma forma, aquilo que faz, o que é ou o que tem, não lhe faz bem, não permite que se sinta 100% bem consigo mesmo e ainda sim você continua a fazer, justificando-se em mil e uma desculpas, algumas  até "coerentes", é o "Restaurador de Configurações" fazendo de você uma espécie de ventríloquo.

Você só consegue deletar o Restaurador da sua mente, se observa-lo com atenção. Não há outro caminho. Precisa perceber que ele existe e como ele atua no seu dia a dia.

Se não consegue perceber, ficará prisioneiro dele e sofrerá as limitações inerentes. Até mesmo trazendo-te a falsa sensação de que bons pensamentos/sentimentos de nada adiantam no processo criativo.

De fato, é possível criar, sem necessariamente cultivar, bons pensamentos/sentimentos. Só que essas criações são como castelos de areia, que se desfazem com o tempo ou com a primeira grande ventania.

Dedique-se agora a grande arte de perceber-se e ao mundo a sua volta. Aprecie, admire, olhe com mais amor, intensifique seu olhar mesmo que se depare com situações não tão boas assim.

Uma percepção de quem mesmo não estando ainda em total alegria faz de cada situação um bom e proveitoso momento todo seu, ainda que na presença de muitos.
O processo de perceber, de estar ligado nas situações, por mais incomodas que possam ser é a síntese da vida.
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Miriam disse...

Muito bom Ronald...vou começar a observar...

Tks

Elaine